Em Janeiro de 2014 fui ao Parque Nacional
da Serra da Capivara, no Piauí. As formações rochosas, vales, veredas e
grotões, em meio à caatinga, juntamente com as inscrições rupestres dos
habitantes mais antigos das Américas, me conduziram a um estado de arrebatamento.
Conforme Pessis (2013), as primeiras inscrições datam, aproximadamente, de
12.000 anos. Essas inscrições se distribuem por todo o Parque e representam
temas ligados à rituais religiosos, caça, lutas, atos sexuais e outros. Fiquei
tocado pela maneira de como os desenhos e as pinturas são construídos de forma
sintética e minimal, com alto grau de expressividade, noção de movimento e, em
alguns casos, de profundidade. O acervo rupestre da Serra da Capivara torna
evidente as habilidades desenvolvidas no que diz respeito à representação do
mundo e ao desenvolvimento de técnicas para esta representação. Enfim, os
desenhos nos trazem experiências relativas ao cotidiano desses homens pré-históricos
e algumas de suas inquietações que ainda hoje nos habitam. Em inúmeros sítios
arqueológicos encontram-se desenhos superpostos, executados em diferentes
datações, com intervalos de até 6.000 anos. As paredes, portanto, aparecem,
nesses casos, como espécies de palimpsestos, contribuindo para a ambiguidade de
possíveis interpretações. A técnica e os modos de representação empregados por
esses homens; as temáticas que abordam suas inquietações; a ambiguidade dos
registros; e o encantamento causado pela exuberância da natureza e
redimensionado pelo acervo rupestre, me levaram a elaborar uma série de
trabalhos inspirados nas inscrições do Parque. De modo metalinguístico, os
desenhos e as pinturas rupestres são o tema que desenvolvo nestes trabalhos. A
série proposta busca estabelecer um diálogo formal-temático e, ao mesmo tempo,
um confronto técnico-material com a arte rupestre da Serra da Capivara. Por um lado, busquei, a partir da recriação,
uma aproximação-apropriação dos temas e dos modos de fazer (formas) utilizados
pelos "artistas" pré-históricos, privilegiando as características
sintéticas e minimais dos desenhos e pinturas. Por outro lado, à medida que
utilizei um tablet para executar as obras, procurei tecer um contraste relativo
aos materiais técnicos empregados na contemporaneidade e os empregados há
12.000 anos, levando em consideração a ressignificação, na medida que ao
introduzirmos todo o nosso repertório de conhecimento, adquirido no decorrer de
milênios, produzimos novos sentidos a essas releituras e às próprias inscrições
que serviram de fonte e inspiração para elas. Os modos rudimentares empregados
pelos "artistas" pré-históricos são retomados em minha produção
(embora eu tenha utilizado uma plataforma digital), visto que usei apenas os
dedos para executá-la. A exposição, além de proporcionar ressignificações no
campo estético, contribui para a divulgação do Parque da Serra da Capivara, um
dos lugares mais importantes do mundo no que diz respeito à Arte Rupestre.
ArtRage para IPad
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