domingo, 23 de outubro de 2016

KALUDOSCÓPIO




























KALUDOSCÓPIO
(A Musa na Contemporaneidade)

Para realizar a série de obras ora apresentada, tomamos como fonte inspiradora a mitologia grega. O mito pode ser entendido como uma narrativa ou sistema simbólico que procura explicar o homem e o mundo. Jung, por sua vez, o apresenta como uma conscientização dos arquétipos do inconsciente coletivo - sendo este inconsciente coletivo compreendido como a herança das vivências das gerações anteriores, à medida que expressaria a identidade de todos os homens, independentemente da época e do lugar onde tenham vivido. Nesse sentido, é que ressaltamos o caráter atual de nossa abordagem, uma vez que os mitos são reelaborados e atualizados, e passamos a imprimir marcas da contemporaneidade aos arquétipos.
Primeiramente, partimos das narrativas referentes às musas, entidades mitológicas a quem se atribuíam a capacidade de inspirar a criação artística. Eram nove as musas inspiradoras: Terpsícore (dança), Erato (poesia lírica), Euterpe (música), Polímnia (música sacra), Melpômene (tragédia), Tália (comédia), Calíope (Eloquência), Clio (História) e Urânia (Astronomia).
Com o tempo, o significado da palavra tornou-se mais abrangente e passou a designar, figurativamente, a mulher amada ou aquela que traz inspiração para diversas formas de expressão cultural.
Levando em conta essa abrangência, elegemos uma única modelo para representar o papel de musa. Elevamos, em nossa série, a quantidade original das musas para vinte e sete, uma vez que a imaginamos representada em três perspectivas diferentes: uma do pintor, que idealiza e recria sua musa no  mundo  da pintura, outra da própria musa/modelo, uma vez assume, sugere e interpreta diversos estados e entidades mitológicas diferentes, e outra do espectador, que a partir de seu repertório de conhecimento reinterpreta as representações pictóricas.
Entre as vinte e sete pinturas, a musa também assume o lugar de outras figuras mitológicas de grande força  simbólica, como por exemplo: Medusa, Ariadne, Cassandra, Perséfone, e uma Bacante. Nas demais, sendo uma musa da contemporaneidade, que sofre, inclusive, de enxaqueca, demonstra hábitos banais do cotidiano, como, por exemplo, o uso do celular e do fio dental. Por fim, ela deixa revelar diferentes facetas arquetípicas em que se apresentam o jocoso, o sofrimento, o lúdico, a felicidade, a sensualidade, a vaidade, o desespero, a indiferença,  e o misticismo, entre outras.
Outra preocupação de nossa parte referente à realização dessa obra tem a ver com a intenção de buscar novas possibilidades interpretativas e significativas para a arte de retratar, uma vez que ela tem retornado com grande força no cenário contemporâneo.
Escolhemos o preto e branco com a intenção de ressaltar, no plano pictórico, o caráter dramático da obra e, no plano simbólico, a infinita peleja do artista em busca de impor luz/ordem ao caos através da linguagem da Arte.
Dados técnicos
Os retratos foram executados em Óleo s/ tela, com dimensões de 60 X  60 cm, entre 2014 e 2015. Os 27 retratos são indissociáveis, e compõem, na  verdade, um único painel.


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