KALUDOSCÓPIO
(A Musa na
Contemporaneidade)
Para
realizar a série de obras ora apresentada, tomamos como fonte inspiradora a mitologia grega. O mito pode ser
entendido como uma narrativa ou sistema simbólico que procura explicar o homem
e o mundo. Jung, por sua vez, o apresenta como uma conscientização dos
arquétipos do inconsciente coletivo - sendo este inconsciente coletivo
compreendido como a herança das vivências das gerações anteriores, à medida que
expressaria a identidade de todos os homens, independentemente da época e do
lugar onde tenham vivido. Nesse sentido, é que ressaltamos o caráter atual de
nossa abordagem, uma vez que os mitos são reelaborados e atualizados, e
passamos a imprimir marcas da contemporaneidade aos arquétipos.
Primeiramente, partimos das narrativas referentes às musas,
entidades mitológicas a quem se atribuíam a capacidade de inspirar a criação
artística. Eram nove as musas inspiradoras: Terpsícore (dança), Erato
(poesia lírica), Euterpe (música), Polímnia (música sacra), Melpômene
(tragédia), Tália (comédia), Calíope (Eloquência), Clio (História) e Urânia
(Astronomia).
Com
o tempo, o significado da palavra tornou-se mais abrangente e passou a
designar, figurativamente, a mulher amada ou aquela que traz inspiração para
diversas formas de expressão cultural.
Levando
em conta essa abrangência, elegemos uma única modelo para representar o papel
de musa. Elevamos, em nossa série, a quantidade original das musas para vinte e
sete, uma vez que a imaginamos representada em três perspectivas diferentes:
uma do pintor, que idealiza e recria sua musa no mundo
da pintura, outra da própria musa/modelo, uma vez assume, sugere e
interpreta diversos estados e entidades mitológicas
diferentes, e outra do espectador, que a partir de seu repertório de
conhecimento reinterpreta as representações pictóricas.
Entre
as vinte e sete pinturas, a musa também assume o lugar de outras figuras
mitológicas de grande força simbólica,
como por exemplo: Medusa, Ariadne, Cassandra, Perséfone, e uma Bacante. Nas
demais, sendo uma musa da contemporaneidade, que sofre, inclusive, de
enxaqueca, demonstra hábitos banais do cotidiano, como, por exemplo, o uso do
celular e do fio dental. Por fim, ela deixa revelar diferentes facetas arquetípicas em
que se apresentam o jocoso, o sofrimento, o lúdico, a felicidade, a
sensualidade, a vaidade, o desespero, a indiferença, e o misticismo, entre outras.
Outra
preocupação de nossa parte referente à realização dessa obra tem a ver com a
intenção de buscar novas possibilidades interpretativas e significativas para a
arte de retratar, uma vez que ela tem retornado com grande força no cenário
contemporâneo.
Escolhemos
o preto e branco com a intenção de ressaltar, no plano pictórico, o caráter
dramático da obra e, no plano simbólico, a infinita peleja do artista em busca
de impor luz/ordem ao caos através da linguagem da Arte.
Dados
técnicos
Os retratos foram executados em Óleo s/ tela, com dimensões de 60 X 60 cm, entre 2014 e 2015. Os 27 retratos são
indissociáveis, e compõem, na verdade, um único painel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário