sábado, 29 de março de 2008

A ANATOMIA DA MODERNIDADE

A Arte é uma febre, um momento mágico, divino. O artista é um louco a quem falta o juízo e sobra razão. Essa conceituação é verdadeira, traz a marca do destino humano: o despojamento, o prazer, a dor, o absurdo existencial. A sensibilidade criativa, a inteligência, o saber, andam de mãos dadas, se completam e se harmonizam em seu universo onde a Beleza mora, de par com os sonhos e as fantasias.

Essas idéias-ideais fluem agora em meus pensamentos e me atropelam. Ganham forma, estrutura, som, cor, imagem e ressonância diante das telas de Fernando França – Os Meninos.

Conheci Fernando França no campus da Faculdade de Letras da UFC, ainda um garotão. Tinha o ar sonhador, perplexo, divagante, lembrava um poeta, mas era pintor. E que diferença faz?

Levou-me à casa dele para mostrar seus novos quadros – Os Meninos – que são os dele, os nossos, os do mundo, que menino é coisa da natureza, raiz do chão, não tem pátria, dono, família. Os “meninos” dele só não se confundem com os demais, porque são pintados. A diferença está só nisso. E isso faz uma grande diferença e os distancia de outros seres.

Em que escola, movimento, se enquadra a pintura de Fernando França? Em nenhum, mesmo porque sua experiência é muito pessoal e se faz em vários sentidos. Não há versão nem inversão. A autenticidade é a marca de seu talento. Seu compromisso em primeiro lugar atende à sua natureza vocacional, dom que Deus lhe deu e que diabo algum pode tirar.

Há pessoas que já nascem iluminadas sob o clarão da “Estrada de Jacó”, como Barrica, Gadelha, e poucos outros, para ficar só com dois dos nossos.

Confesso que as novas obras de Fernando França me impressionaram. É visível a evolução dos recursos criativos em sua seara mais recente: a técnica, o emprego das cores, (luz-sombra), a composição, a plasticidade das figuras carregadas de matéria pictórica, tudo isso concorre para a expressividade e o êxito do seu trabalho.

A postura dos “meninos” de Fernando nos passa sossego, paz, uma doce ternura que não é possível (nos dias de hoje), a não ser através do poder persuasivo da arte. Com grande naturalidade, consegue fixar esses valores em suas telas.

Estou de pleno acordo com Descartes Gadelha quando diz que a “riqueza de elementos plásticos diversificados só fortificam a construção de sua trajetória artística”, ao que acrescentaríamos: e consubstancia os elementos estetizantes de sua obra que cada vez mais se evidenciam.

Em pé, sentados, parados, deitados, braços e pernas entrelaçados, numa doce harmonia, “os meninos” de Fernando França estão prontos para o aval da posteridade que os espera de braços escancarados.


José Alcides Pinto

Um comentário:

Marcley de Aquino disse...

Ave, José Alcides Pinto! Atropelado em seus pensamentos não pelas idéias-ideais, mas pelas rodas do destino... Desperto que foi do seu sonho, certamente será recebido de braços abertos pelo aval da posteridade! E que nós, amigo Fernando, custemos a acordar!
Um abraço,
Marcley